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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Pentecostal, não esotérico.


Marcus e eu tremíamos. Diante do austero Conselho da nossa igreja, respondíamos sobre nossa recente experiência pentecostal. Em oração, eu e ele havíamos falado em línguas estranhas; experimentado o que os teólogos chamam de “glossolália”. Há vinte e cinco anos, a questão carismática havia rachado muitas igrejas batistas, presbiterianas e metodistas. Alguns líderes de nossa igreja não queriam correr riscos. Sentamos em um semi círculo e, seguindo todos os trâmites canônicos da denominação, foi-nos cobrada uma nova profissão de fé. Ficava patente para nossos inquiridores que não só criamos como também éramos pentecostais. A morna madrugada cearense se arrastava pesada quando, exaustos, percebemos que não havia reconciliação. Acabamos forçados a pedir afastamento da igreja. Passados tantos anos, nossos traumas foram curados. Desde então, a minha primeira e tão querida igreja mudou muito. Alguns elementos pentecostais que provocaram nossa exclusão foram incorporados à sua liturgia; há mais abertura doutrinária também. Duvido que hoje fossemos julgados com tanto rigor. Ironicamente, agora escrevo questionando sobre novas práticas e posicionamentos teológicos no pentecostalismo. Percebo um neo-carismatismo brasileiro muito diferente do que conheci.


Acredito que muitas igrejas, identificadas hoje como pentecostais, estão teologicamente muito próximas de um misticismo pagão. Distantes da teologia clássica, incorporaram valores de uma espiritualidade esotérica. Com certeza, há fortes segmentos de um novo pentecostalismo que não caminham com o que a igreja primitiva chamava de “doutrina dos apóstolos”. Urge mostrar que é possível ser pentecostal sem ser esotérico.


Recentemente, aguardava minhas malas na esteira de um determinado aeroporto. Uma senhora evangélica me abordou afirmando que se dispunha a orar por uma pessoa amiga. Pediu-me que intermediasse o encontro. Respeitosamente, respondi-lhe: -Lamento, mas não tenho acesso a essa pessoa. De pronto, ela me respondeu: -Pedi seu auxílio porque sei que posso ajudar. Depois, acrescentou: -Desenvolvi uma técnica de oração que, tenho certeza, dará certo. Em sua sentença, percebi os perigos que ameaçam os evangélicos brasileiros. Esse conceito de técnica é mais pagão que bíblico.


O paganismo se firma na premissa de que há energias soltas no cosmo. O aprendizado de técnicas e rituais capacitam as pessoas a instrumentarem essas energias em seu próprio benefício. O pagão prescinde de relacionamentos com a divindade. Seu deus pode ser indiferente e frio. Basta que se canalizem essas forças autônomas e até a divindade se obrigará a elas. Igrejas que ensinam aos seus crentes orações prontas, valem-se de amuletos e divulgam métodos para “conseguir” bênçãos de Deus, não são pentecostais ou evangélicas, mas versões cristianizadas do esoterismo do fim de século.


Meus primeiros passos nas igrejas pentecostais foram intensos. Atravessávamos madrugadas “buscando” a Deus. Quantas vezes, encharcando o chão de lágrimas e suor, suplicávamos com fervor que a sua vontade se cumprisse em nossas vidas. Algumas vezes, exagerávamos. Recordo-me de um amigo que, de rosto em terra, afirmava que preferia morrer a sair daquela reunião sem ser tocado pelo Espírito Santo. Em muitos sítios evangélicos hoje, a atitude parece ser outra. Resumem-se em desenvolver fórmulas de alcançar milagres. Infelizmente são poucos os eventos organizados para que as pessoas simplesmente busquem ser cheias de Deus. Questiono se ainda há espaço para oração em que não se desejam resultados práticos, apenas estar mais perto de Jesus.


A possibilidade de ser tocado pelo sobrenatural empolgou meus anos juvenis. Lembro-me que eu relegara ao passado a possibilidade de milagres acontecerem. Foram os pentecostais que me lembraram que podemos não apenas testemunhar, como experimentar o toque sobrenatural do Espírito Santo. Disseram-me que o seu poder me revestiria de virtude e que eu, a partir daquela experiência, seria consumido por um novo zelo missionário. Busquei e pedi que Deus me enchesse do seu poder porque desejava testemunhar dele com novo ardor. Senti-me invadido pelo transcendente em um culto de vigília promovido por nosso grupo da Aliança Bíblica Universitária. Meus objetivos de vida mudaram.


As religiões místicas também buscam experiências sobrenaturais. Não contesto que o fenômeno das línguas estranhas também já se evidenciou em alguns redutos espíritas. O argumento pentecostal é que o contato sobrenatural do Espírito Santo impulsiona para missões. A experiência pagã com o sobrenatural é ensimesmada. Deus não nos toca, não nos plenifica e não nos revela o transcendente somente para nos arrepiar. O esotérico busca paz; quer sentir-se melhor sem compromisso para o serviço. O cristão busca servir; quer ser instrumento capaz nas mãos de Deus. Devemos olhar com cautela as reuniões em que as pessoas são arrebatadas, jogadas ao chão, tomadas de riso e de choro sem desdobramentos posteriores no servir ao próximo. Alcebíades Pereira Vasconcelos, pastor e pensador pentecostal, escreveu: ”Também a unção do Espírito Santo nos enche de poder para testemunhar...Cheios do Espírito, podemos anunciar o Evangelho de poder, a tempo e fora de tempo (2 Tm 4.1-5)...Inflamados por esse fogo, seguiremos avante dando testemunho a pequenos e a grandes (At 26.22) daquilo de que somos testemunhas, a saber, da ‘razão de ser de nossa fé’”.


Aquela reunião em que me confrontavam sobre a autenticidade de minha experiência com os dons do Espírito Santo, permanece vívida em minha memória. Ainda inexperiente e sem muita bagagem teológica eu não sabia argumentar o que me sucedera. Entretanto, estava consciente que minha vida havia mudado. O toque de Deus gerara em mim novos valores. O pentecostalismo sempre creu que o poder do Espírito Santo e santidade são inseparáveis. Donald Gee, inglês e precursor da teologia pentecostal afirmou: “Não há base bíblica para crer que um avivamento que só recebe o Espírito Santo como inspirador da Palavra ou da ação, e não da santificação pessoal também, continue no seu poder. ‘Entristecer’ o Espírito de Deus por falta de santificação (Ef. 4.30) com certeza termina também na ‘extinção’ do Espírito de Deus na sua manifestação (1 Ts 5.19). O plano divinamente equilibrado revelado no Novo Testamento é onde o Espírito Santo se assemelha na origem tanto do fruto como do dom; e para as duas fases da nossa redenção Ele é bem vindo e obedecido”.


Neste crepúsculo secular experimenta-se um avivamento de um misticismo pós-moderno. Tenho um amigo que estudou com um professor de lógica na faculdade de Filosofia que lecionava segurando um cristal. Sabe-se de ex-militantes da Teologia de Libertação profundamente envolvidos com um panteísmo que os inspira a adorar a “mãe terra”. Há evangélicos crendo em “mau olhado”, amuletos e no poder de um copo d’água ungido. Com tanta abertura para o transcendente, convém lembrar que é possível crer na contemporaneidade dos dons do Espírito Santo, cura divina, milagres, anjos e exorcismos, sem ser esotérico. Basta não abandonar a Bíblia como única regra de fé e prática.


Continuaremos fieis ao cristianismo histórico, se nossos cultos buscarem nos levar a um relacionamento mais profundo e verdadeiro com Deus; nossa fé desdobrar se em serviço e a expressão de nossa vida cristã estiver marcada por caráter e não sucesso.


A identidade evangélica no próximo milênio, dependerá de nossa habilidade em distinguir uma coisa da outra. Que Deus nos ajude.


Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Brasil te dou liberdade para falar, mas por favor: CALE A BOCA!!!!



Brasil não assegura livre expressão, avalia OEA

BRASIL (*) - Relatório da divisão especial para Liberdade de Expressão da Organização dos Estados Americanos (OEA), apresentado ontem em Washington, nos Estados Unidos, faz críticas ao ordenamento jurídico brasileiro. Redigido anualmente, o documento adverte de que, apesar da derrocada da Lei de Imprensa, o Brasil não oferece segurança suficiente para que cidadãos informem sobre assuntos de interesse público sem medo de serem presos, perder seus patrimônios ou sofrer agressões.


Compilado pela juíza colombiana Catalina Botero Marino, o documento tem como base denúncias apresentadas por entidades brasileiras e internacionais que monitoram o direito à informação, como Repórteres Sem Fronteiras, Artigo 19 e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Ao todo, dez páginas descrevem casos de agressão, assassinato, prisão e perseguição judicial a jornalistas e cidadãos brasileiros que publicaram reportagens ou expressaram suas opiniões em público.


A OEA demonstrou preocupação com atentados realizados contra sedes de jornais e equipes de reportagem. Interpretou também que a proibição da Marcha da Maconha vai contra a Convenção Americana. Segundo o texto, manifestações pacíficas são legais, desde que não façam propaganda a favor da guerra ou apologia de ódio nacional, racial ou religioso. A relatoria posicionou-se ainda contra a obrigação do diploma de jornalista para exercer a profissão, assunto que permanece na pauta do Supremo Tribunal Federal (STF).



terça-feira, 26 de maio de 2009

Isaías, por favor, me responda: O que é o Jejum?



Olha só a Resposta que o Isaías me deu:

"... Clama a plenos pulmões, não te detenhas, erga a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados...

Eis que, no em que jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo vosso trabalho.

Eis que Jejuais por contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo; Jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto.

Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao SENHOR?

Porventura não é este o Jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo o jugo?

Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante?

Então, romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR será a tua retaguarda..."

Bom, acho que nem preciso entrar em mais detalhes sobre o que é o Jejum, mas se alguém quiser debater, leia o cap. 58 de Isaías e depois sinta-se livre pra expressar sua opinião.

Gilliardi
26/05/2009



O que será que José de Alencar quis dizer?


"Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime artista, tinha decorado para os dramas majestosos dos elementos, em que o homem é apenas um simples comparsa."

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Quando um amigo me questionou sobre: o que é estar "aberto" ao diálogo teológico?


Minha resposta foi: " _ é saber que "A Verdade" é algo que um sistema, ou a dogmatização, não pode conter, e isso nos leva a ver que esta "Verdade", de grande que é, está sendo percebida por outros em uma ótica diferente da nossa."
Por falar em ótica, olhe no centro desta figura e me diga: o que é que você está vendo? Qual a sua impressão?
Um abraço,
Gilliardi
22.05.2009

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segunda-feira, 18 de maio de 2009

"...A AMIZADE, NEM MESMO A FORÇA DO TEMPO IRÁ DESTRUIR..."




Este texto foi um depoimento que meu "irmãozinho" Gustavo postou em meu orkut e resolvi publicá-lo pois é uma reflexão sobre a amizade. Ele que sempre foi um referêncial de humanidade, hoje se torna um poeta e o melhor é o meu amigo/irmão/poeta. A bíblia nos fala dos amigos mais chegados que irmãos, agora digo "eu", melhor ainda se este seu amigo for o seu irmão. Guta, Tb Te amo muito!!!!!


"Amigo é aquela pessoa que o tempo não apaga,
que a distância não esquece,
que a maldade não destrói.

É um sentimento que vem de longe,
que ganha lugar no seu coração
e você não substitui por nada.

É alguém que você sente presente,
mesmo quando está longe...
Que vem para o seu lado quando você está sozinho
e nunca nega um sentimento sincero.

Ser amigo não é coisa de um dia,
são atos, palavras e atitudes
que se solidificam no tempo
e não se apagam mais.
Que ficam para sempre como tudo que é feito
com o coração aberto.

Deus me abençoou com sua irmandade e sua amizade.
Te adoro não esqueça disso.
Que Deus abençoe o seu caminho.
Um bj em você na Quesia.
Te amo"

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Texto escrito por um antigo Professor e amigo: Pr. Rogério Barros


A Semente do Sofrimento
O sofrimento humano é uma pedra de tropeço na relação entre Deus e Homem no curso da história. Muitos não entendem porque o Deus-Bondoso-Todo-Poderoso permite que inocentes sofram. Se é bondoso, porque deixa uma criança ou um inocente de qualquer idade sofrer? Ou não é bondoso, ou não é todo-poderoso. Mal, dor e sofrimento, são categorias que pertencem a “existência-humana-terrena”. Mesmo com o exemplo do Livro de Jó, e pensando que a dor e o sofrimento de Cristo na Cruz tornou-se no grande bem divino para beneficio da humanidade não dá para criar uma teologia-dogmática que explique o sofrimento. Não há como explicar pela lógica filosófica, ou pela lei de causa e efeito ou pelo conceito aristotélico de justiça a presença do sofrimento. Não há existência humana sem sofrimento. O sofrimento não é uma questão de justiça, não tem sua aplicação decorrente de causas humanas. O sofrimento não é matemático, não pode ser administrado, manipulado ou paralisado pelo homem. Deus fez do sofrimento uma semente que ele mesmo jogou sobre a terra, e ele brota da terra, onde caiu. Portanto enquanto estivermos com os pés na terra a semente do sofrimento pode nascer no quintal de nossas casas. Nasce da vaca louca, do espirro do porco, do resfriado da galinha, ou de experimentos em laboratórios que hora criam combinações físicas capazes de matar milhares em minutos, hora criam bactérias que causam doenças irremediáveis. Tudo isso nasce acometendo nossos filhos recém nascidos, nossos jovens na flor da idade ou nossos velhos na lucidez da vida. Assim como no processo natural a semente brota da terra, porque a terra produz. A terra produz o sofrimento que Deus plantou para nascer no transcurso do existir humano, sem que Ele mesmo fique todos os dias escolhendo a quem, como e porque o sofrimento virá. Não há uma seleção para aplicação conforme o merecimento ou não do sofrer. Como quem diz: “mal-sofre, mal-não-sofre”. O sofrimento não é uma “normal”, que estabelece, de 0 a 7 anos não pode sofrer, mas daí em diante, porque já adquiriu consciência de “bem e mal”, pode sofrer, porque ai haverá uma explicação lógica-teo-lógica para o sofrimento. Não dá para culpar ou questionar Deus porque crianças sofrem, ou porque um jovem-bom-pai, ou uma donzela sofreram o mal, sem aparente causa. Simplesmente porque o sofrimento e o mal são produto da terra onde se vive o existir humano. Da mesma terra onde tiramos o pão como suor do nosso rosto, colhemos o sofrimento que foi plantado por causa de nossa grande arrogância. Então o sofrimento é o freio de Deus para humanidade, não apenas para os pais, não apenas para os filhos, não apenas para os velhos ou para quem viveu meses, mas para a humanidade em todas as etapas do existir.

Rogério Barros

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Minhas Ambiências




Um dos maiores desafios cristãos é sentir-se um com seu próximo. Por isso, viver a realidade do salmo 133 é quase “a dimensão do impossível”, diante de tanta adversidade e diversidade de personalidades neste mundo pós-moderno. Mas, esta união não é uma utopia, embora não seja tão simples, ela é uma grande possibilidade na vida daqueles que querem, ou podem vivê-la.
Tenho analisado o que realmente tem a capacidade de unir as pessoas, e percebo que além do mesmo ambiente, é necessária uma ambiência.
Ambiência não é apenas o ambiente, é um espaço físico que é dinâmico e promove a interação dos seus participantes. Ela, na verdade, não é formada pelo que se constrói fisicamente, mas sim pelo que se vive neste espaço. A ambiência é marcada pelas experiências obtidas em determinados lugares, que nos remete as pessoas com as quais vivemos.
Escrevi estes parágrafos, para refletir sobre as ambiências de minha vida, e o quanto elas foram capazes de me unir a indivíduos, criando em mim algo tão forte que jamais me separará de cada um deles.
Meu lar, minha rua, minha escola, minha igreja e o seminário. Foram estas as ambiências que me fizeram ser Gilliardi, unindo-me a pessoas que a distância e o tempo jamais me separaram. Nunca tiraram de dentro de mim, as lembranças e o carinho que cada um dos “chegados” me proporcionou.
Sou grato a Deus que me regalou com ambiências tão maravilhosas